Seguidores

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Cantata e Fuga

Tinha eu cerca de 3 anos e morávamos próximo a Igreja Metodista, em Alegrete, na rua 20 de Setembro.


Todas as manhãs, após tomar o café, minha irmã Francisca penteava cuidadosamente meus cachos e eu ia sentar no portal da casa para olhar o movimento de pessoas e de carroças, as quais vendiam frutas, verduras ou lenha para fogão; quanto aos cachos, eram resultantes de uma promessa feita por minha mãe de não cortar meu cabelo até os sete anos, pois estive muito doente, com poucos meses de vida.
Uma das pessoas que por ali passava era o barbeiro que vinha abrir seu salão localizado ao lado de nossa casa; ele passava e dizia:
--Que linda menina!
Ao que eu replicava:
--Eu não sou menina, sou homem!
E vinha a tréplica:
--Homem não usa cabelo comprido, vai até o salão e eu corto teu cabelo!
Dia após dia esta conversa se repetia, até que eu criei coragem e fui atrás do barbeiro, para que ele cortasse meu cabelo. No salão ele colocou uma tabuinha sobre os braços da cadeira e me sentou nela e foi cortanto cacho após cacho. Eu estava alheio a tudo, ouvindo maravilhado o cantar de passarinhos que estavam em gaiolas dependuradas nas paredes em volta de mim.
Terminado o corte, voltei para casa cheio de alegria, contrastando com a tristeza de minha mãe por ver quebrada sua promessa.
Quanto ao barbeiro, não sei o seu nome, mas era conhecido pelo apelido de Pipiu, provavelmente por criar pássaros canoros.
No título desta historieta os passarinhos são responsáveis pela cantata e eu, pela fuga!