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sábado, 22 de março de 2008

SOBRE A GUERRA

Reflexos da 2ª Guerra Mundial em Alegrete

      Corria o ano de 1942: a guerra, até então algo distante e alheio a nosso cotidiano, passa a bater à nossa porta, com navios mercantes brasileiros afundados por submarinos nazistas e com a declaração formal de guerra do Brasil contra as potências do “Eixo”.
      Começam então os preparativos para o envio de tropas ao cenário da luta: reservistas são reconvocados de todos os recantos deste imenso país; como diz a Canção do Expedicionário:
“Você sabe de onde eu venho?
Venho do morro, do engenho,
Das selvas, dos cafezais,
Da boa terra do coco,
Da choupana, onde um é pouco,
Dois é bom, três é demais
Venho das praias sedosas,
Das montanhas alterosas,
Do pampa, do seringal,
Das margens crespas dos rios,
Dos verdes mares bravios
Da minha terra natal!”
Desses que vieram do pampa, haveria algum de Alegrete? Eu sei apenas de um, Rui Jacques Trindade, filho do Seu Ismael e de Dona Vitoriana, moradores do Capivari, que deram uma festança por ocasião de sua volta (e eu fui a esta festa; é verdade que não aproveitei muito, terminei sendo posto a dormir em uma cama de casal, com mais meia dúzia de crianças, enquanto os adultos bailaram a noite inteira!).
      Outro que foi reconvocado, embora não tenha seguido para a frente de combate, foi meu irmão Pedro D’Andrea Neto. Ele foi destacado para o Sexto Regimento de Cavalaria, ali próximo da Estação Ferroviária, onde hoje está o Batalhão de Engenharia. Quando ele tinha que ficar alguns dias no quartel, minha mãe lhe mandava diariamente um fiambre, que era entregue ao sentinela, no portão. Naquela época jamais sequer se pensaria em mandar uma menina ou uma moça levar algo a um quartel: como meu irmão Domingos trabalhava, sobrava para mim, um homem com cerca de 5 anos caminhar pouco mais de uma quadra da rua Tamandaré, atravessar a linha férrea, chegar até o quartel com o fiambre, entregá-lo ao sentinela e dizer a quem se destinava (embora a tarefa não me agradasse muito, eu a cumpria a contento, afinal guerra é guerra).
      Apesar de minha pouca idade, ficava a filosofar: guerra devia ser uma coisa muito ruim, pior que aquela grande enchente (1941) que desabrigou tanta gente, pois fazia minha mãe chorar com a simples possibilidade de seu filho ser enviado à luta... e eu sequer imaginava a dor daquelas mães cujos filhos foram e não voltaram!

APENAS UMA TEIA-DE-ARANHA...

             Sobre a fuga do Menino para o Egito:
        (a passagem é apócrifa, a conclusão é verdadeira.)
      Avisado pelo Anjo do Senhor que os soldados de Herodes procuravam o Menino para matá-lo, José tomou Maria e o Menino e, no lombo de um burrico, empreendeu a fuga para o Egito, onde o Menino ficaria a salvo, até que o Anjo avisasse para retornarem.
      Durante a fuga, como os soldados se aproximassem, os fugitivos se esconderam em uma caverna. Após entrarem, vieram as aranhas e teceram suas teias, cobrindo completamente a boca da caverna.
      Quando os soldados chegaram, ao ver a teia na boca da caverna, concluíram que não havia ninguém entrado alí há muito tempo. Os soldados se retiraram e a Sagrada Família pode continuar sua viagem!
      Conclusão: "Com o meu Deus uma teia de aranha é uma fortaleza; sem Ele, uma fortaleza é apenas uma teia de aranha".

HUMOR

                  Mendel e a hereditariedade.

      As leis de Mendel sobre a hereditariedade, a partir de estudos com ervilhas, todo o mundo que fez II Grau conhece; o que ninguém sabe é que seus estudos começaram com o cruzamento de minhocas com centopéias.

      No cruzamento supra-citado Mendel obteve, na 1ª geração bichinhos com 50 patas, 25 de cada lado, que ele denominou “cinqüentopéias” ( perfeitas, em 90 % dos casos),.

      Na geração seguinte, cruzando cinqüentopéias perfeitas, ele obteve resultados do tipo: 50% dos descendentes eram cinqüentopéias, 25 % minhocas e 25% centopéias.

      Conforme citamos, na 1ª geração houve 90 % de cinqüentopéias perfeitas, com 25 patas de cada lado; os restantes 10 % tinham a totalidade (ou a quase totalidade) das 50 patinhas de um só lado do corpo e nada ou quase nada do outro lado. Ao tentar obter, por cruzamento, uma 2ª geração destas cinqüentopéias disformes, deu-se o impasse: como elas só tinham patas de um lado, só andavam em círculos e nunca se encontraram para acasalar; não houve uma segunda geração!

      A partir daí, Mendel dirigiu seus estudos para vegetais, bem mais fáceis de cruzar: começou com girassóis-anões da Tanzânia e depois com ervilhas de flores coloridas, que é o que conhecemos hoje de suas experiências.

      Como resquício de sua frustrante experiência com minhocas e centopéias, restou a denominação das cinqüentopéias disformes:

      Minhopéias, aquelas com patinhas à direita (centopéias, se vistas pela direita, minhocas, se vistas pela esquerda) e Centonhocas, aquelas com patinhas à esquerda (centopéias, se vistas pela esquerda, minhocas, se vistas pela direita) .

EL CID

     Sempre imaginei que o herói espanhol Don Rodrigo , de Bivar (ou Vivar), conhecido como El Cid, o Campeador, que viveu à época da dominação moura na Penísula Ibérica, fosse chamado por todos os árabes assim (Al Cid), em alusão ao herói e semi-deus da Grécia clássica Héracles (o mesmo Hércules dos romanos) cujo nome de batismo era Alcides. Cheguei a pensar em escrever alguma coisa a esse respeito e comecei a pesquisar sobre o assunto; descobri que apenas os árabes dos locais que ele reconquistou assim o chamavam em sinal de vassalagem e que isso apenas significava em árabe "O Senhor".

Conclusão: pesquisar e estudar podem te trazer mais conhecimento, mas menos fantasia e poesia!       :-(

QUERÊNCIA

                                                                    (outubro de 1993)

     Quase todos nós, portoalegrenses por adoção, viemos de uma pe­quena cidade do interior, a qual fomos obrigados a abandonar em busca de melhores oportunidades de vida e crescimento.

     Não faz diferença se nascemos em Alegrete, Itaquí, São Borja ou Uruguaiana (ou qualquer outra cidade da fronteira oeste do Estado), chegou o dia em que nossa cidade, qual madrasta, não nos concedeu mais a oportunidade de lá ficarmos: saímos, crescemos e fomos "tocando a vida".

     Com o passar do tempo fomos abandonando nossa maneira "grossa" de falar, nossos valores machistas e adotamos ou fomos adota­dos por Porto Alegre. Deixamos de visitar a cidadezinha do interior e a esquecemos.

     Um dia, já casados e com filhos, ligamos o rádio na nossa Rádio Gaúcha e ouvimos o Canto Alegretense; na voz do Bagre, os versos do Nico nos golpeiam no imo e a memória volta em catadupas de emoção: a rua da Igreja, a praça, o río, a rapadura de leite, o pão de casa, as serena­tas, as reuniões dançantes, a Escola. Em meio a cheiros, sabores, ima­gens e emoções, a Escola é uma lembrança à parte, pois até poemas fi­zemos dedicados a Ela.

     É por tudo isto que em qualquer local, o Canto Alegretense repre­senta para qualquer outro auto-exilado emotivo como eu, mais que ho­mena­gem e lembrança de Alegrete, um canto de amor e regresso a um lugar mágico e determinado, dormido na lembrança, a que chamamos QUE­RÊNCIA.

sexta-feira, 21 de março de 2008

EM BUSCA DO TESOURO

     Há muitos anos fui convidado a acompanhar uma turma que iria até um morro no município de Montenegro - RS, em busca de um pretenso tesouro, enterrado ao lado de um bloco de pedra enorme, em formato de paralelepípedo, com arestas de 3 a 4 metros e quase na base do morro. Os preparativos incluíram preparação de farnéis, compra de pás "virgens" para cavar e uso de roupas rústicas e capazes de abrigar contra o frio, pois era inverno.
     Saímos de Porto Alegre no domingo bem cedo, de ônibus. Chegamos ao local indicado pelo líder do grupo, profundo conhecedor da região, onde crescera. Caminhamos uma boa distância por estradinhas, campos e plantações de acácia-negra e chegamos ao pé do morro quase meio-dia. Paramos, comemos o farnel e iniciamos a subida, contornando o morro coberto de mata, num trajeto de forma helicoidal.
     Cerca de 3 horas da tarde tivemos que parar: ouvia-se o ruído de uma forte tempestade, com sons de galhos se partindo, estrondo de árvores caindo e arrastando outras em sua queda; estranhamente, o sol continuava a brilhar entre os galhos e não vimos sequer um galhinho quebrado recentemente, embora tenhamos caminhado até cerca de 5 horas da tarde. A pedra em formato de paralelepípedo não foi encontrada.
     Resolvemos voltar; durante nossa volta, por um caminho ligeiramente diferente do da ida, enxergamos três árvores muito antigas, umbús, formando um triângulo equilátero quase perfeito, com distância de 20 m ou mais entre elas. Nosso guia disse: é costume plantar-se árvores em triângulo para assinalar o local de um tesouro enterrado!
     Marcamos o ponto central daquela área, o qual ficava numa concavidade alí existente, e começamos a cavar; encontramos carvão vegetal e ossos, provavelmente de animais e provenientes de algum antigo churrasco alí feito e que o tempo e a água das chuvas se encarregaram de enterrar. Cavamos fundo e nada encontramos.
     Já anoitecera quando voltamos à estrada, só que por ser domingo e noite não passava nada alí. Só lá pra meia-noite passou um caminhão que nos deu carona. Chegamos a Porto Alegre no meio de uma fria madrugada e eu só não enregelei na boleia daquele caminhão porque havia levado meu poncho e o boné de lã "comprados lá no Uruguai"!

Apesar dos percalços, valeu a pena como aventura.

sexta-feira, 14 de março de 2008

Saudade da Corte

Francisco Carlos D’Andrea (*)

A Corte no Brasil durou pouco mais de 80 anos, mas deixou saudade!
Saudade que se manifesta principalmente no Carnaval, quando a parte mais pobre da população se transveste em reis e nobres, com suas perucas empoadas – nobreza efêmera que não dura mais que 4 dias!
Saudade que se manifesta no linguajar, onde quem tem civilidade ou urbanidade é cortês, procurar conquistar alguém é cortejar, pessoa de vida airosa é cortesã, etc.
Saudade que se manifesta na política e nos parlamentos, onde vereadores, deputados e senadores se tratam por “nobre colega”.
Saudade que se manifesta no judiciário, onde juízes e advogados se tratam por “vossa excelência”.
Saudade que se manifesta na religião, onde bispos católicos são Dom e moram em Palácio Episcopal.
Saudade que respingou na Gazeta de Alegrete onde, satirizando a falsa nobreza, há um Barão de Ktutinha, alter ego do nosso Poeta da Aldeia, Hélio Ricciardi dos Santos.

(*) Engº Civil, ferroviário aposentado.