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sábado, 27 de fevereiro de 2010

Ódio muito antigo

O autor do 1º Evangelho foi São Mateus, antes chamado Leví, filho de Alfeu. Mateus era cobrador dos impostos para Roma, em Cafarnaum da Galiléa, quando Jesus por aí passou; tendo almoçado com ele e outros publicanos e pecadores, Jesus o convidou a seguí-lo, o que ele fez. Este almoço deu muito o que falar entre os fariseus e os seguidores de João Batista, pois os publicanos eram a parcela mais odiada dos judeus; eram assim chamados (publicanos) por trabalharem em uma Empresa Pública encarregada de arrecadar os impostos para o Império Romano, impostos estes escorchantes e, muitas vezes, "inventados" para aumentar a arrecadação e melhor pagar a parcela destinada aos arrecadadores!

Os odiados publicanos vestiam túnicas e mantos azuis, sendo popularmente conhecidos como "azuizinhos"; a empresa pública para a qual trabalhavam atendia pela curiosa sigla de EPTC - Empresa Pública do Tributo a César. Ódio muito antigo, como se vê!

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Obituário (em 22/07/2005)

Belmira Pires D’Andrea, 106 anos, morreu no dia 17 do corrente, em Santa Maria. A missa de 7º dia ocorrerá sábado, dia 23, às 18:30 horas , na Igreja Sagrada Família, rua José do Patrocínio em Porto Alegre.

Belmira nasceu em Alegrete – RS, foi casada com o cidadão italiano João Batista (Giovambattista) D’Andrea. Ficou viúva aos 39 anos, com 7 filhos e os criou e educou sòzinha (sòzinha não, com o auxilio de sua máquina de costura, seu instrumento de trabalho, com a qual fazia belos vestidos e trajinhos para as senhoras notáveis e elegantes do Alegrete; nela trabalhava da manhã à noite, só parando no Domingo, dia do Senhor).

Deixa numerosa descendência: 7 filhos (Luzia, Pedro, Francisca, Domingos, Isabel, Glória e Francisco), 18 netos, 32 bisnetos e 10 tetranetos.

Não tinha títulos honoríficos; foi, no entanto, bacharel no trabalho honesto e persistente, doutora na doação incondicional aos seus, mestra no exemplo de luta, amor e fé.

Uma frase lhe serviria bem como epitáfio, aquela de São Paulo na II Epístola a Timóteo, capítulo 4, versículo 7: “ Combatí o bom combate, acabei a corrida, mantive a fé”.
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Adendo: Há 2 dias fiquei sabendo, por minha irmã Luzia, do seguinte fato que bem demonstra o ânimo de Belmira:

Logo que a mãe ficou viúva, houve um casal de parentes que queriam adotar nossa irmã Isabel, na época com 8 ou 9 anos; Belmira negou-se a separar os irmãos, queria que nós crescêssemos juntos (apesar das dificuldades que iríamos enfrentar). Não sei suas palavras exatas na ocasião, mas sendo uma mulher de origem campeira deve ter dito:

---Meus filhos não são como filhotes de perdiz que mal saem da casca do ovo vão um para cada lado e nunca mais se veem!

domingo, 17 de janeiro de 2010

Histórias curtas da guerra

A II Guerra Mundial (1939 – 1945), da qual o Brasil participou a partir de 1942, deixou muitas histórias e mexeu com o imaginário popular, além de mudar radicalmente hábitos e convenções sociais (inclusive no Alegrete):

1 – Casa-se durante a guerra?

Minha irmã Luzia, em 1942, estava de casamento marcado em Alegrete com Aldemo Tripovichy que era ferroviário em São Borja. Com a entrada do Brasil na guerra os ferroviários foram declarados participantes do esforço de guerra e proibidos de se afastar de suas sedes, mesmo em seus dias de folga. A solução encontrada foi o casamento por procuração: o noivo foi representado por seu pai, Armando Tripovichy, que após a cerimônia levou a noiva para São Borja, ao encontro do marido.

2 – Notícia no rádio

As notícias chegavam pelas ondas curtas do rádio, um aparelho grandão, à válvula, cujo som chegava de um alto-falante colocado atrás de uma malha de tecido ortofônico; falavam da guerra, do presidente da República (Getúlio Vargas) ou executavam as músicas da moda no centro do país, como a valsa (de Mário Rossi e Gastão Lamounier) “...E o destinou desfolhou”. Misturando tudo isto eu ia para trás do encosto de palhinha trançada de uma cadeira (simulando o tecido do alto-falante do rádio) e dizia:

-- Notícia de última hora: o Getúlio desfolhou!

3 – Ovo Indês

Morávamos numa casa alugada, ao lado da casa da proprietária, Dona Didi. Esta senhora criava galinhas e vendia ovos para a vizinhança. Um dia minha mãe me mandou comprar ovos na casa ao lado; não havia ovos para a venda, apenas ovo indês (aquele que se deixa em cada ninho para estimular a galinha a por mais ovos sempre no mesmo local). Em função das nacionalidades em confronto na guerra, eu retornei com o recado:

--Dona Didi mandou dizer que só tem ovo inglês!

4 – Definição de guerra

No auge da enchente de 1941, meu irmão Pedro me colocou sobre seus ombros e saiu a caminhar sobre a linha do trem, da estação ferroviária  em direção à ponte sobre o Rio Ibirapuitã. Num certo ponto ele me mostrou uma casinha invadida pela água, cujos moradores aguardavam, sobre o telhado da mesma, a chegada do barco que iria resgatá-los. A imagem ficou gravada em minha recordação.

No ano seguinte o Brasil entrou na guerra; não se falava em outra coisa; quando eu quis saber o que era guerra, ninguém queria me dizer que era uma loucura que fazia os homens se matarem por coisas sem importância (como nacionalidade, idioma ou ideologia política). Apenas me falaram que era algo terrível, que causava grandes danos às pessoas. Guerra, para mim, passou a ser algo semelhante a um grande volume de água que cobria e destruía tudo, como a enchente do ano anterior.

sábado, 2 de janeiro de 2010

Um terno de casemira bege

Introdução:



Quando retornei ao Alegrete, dia 19 de setembro de 2009, minha prima em 2º grau Vera Alvares Cunha me presenteou com um exemplar da Revista do Imigrante de 2008 em que ela escrevera uma crônica sobre a Alfaiataria La Gamba que existiu na cidade e na qual trabalharam os cunhados Rafhael La Gamba e Pedro D’Andrea, respectivamente meu tio-avô e meu avô paterno.


A Alfaiataria La Gamba ficou conhecida como “A Moderna”. Diz ainda a professora Vera que o legado da Alfaiataria La Gamba foi tributado A Pedro D’Andrea Filho (Pedrito), meu tio, que foi considerado um dos melhores alfaiates de Alegrete até meados da década de 60, quando se aposentou e que o mesmo exerceu seu oficio na Rua dos Andradas ( nº 253), já com o nome de Alfaiataria D’Andrea.


Continuação:


A partir do que diz a professora Vera, eu continuo com a história, acrescentando:


Dos filhos de Rafhael La Gamba, nenhum seguiu a profissão do pai, tendo a sua linhagem de alfaiates se extinguido com ele.


Dos filhos de Pedro D’Andrea, além de Pedrito também trabalharam neste ramo meu tio Ventura Radamés D’Andrea, que foi auxiliar de Pedrito em sua alfaiataria, mas que nunca chegou a se estabelecer como alfaiate, e meu pai João Batista D’Andrea, também alfaiate, que exerceu a profissão em Alegrete e posteriormente, em Quarai. Apesar de ter três filhos (Pedro, Domingos e Francisco) João Batista não pode transmitir a profissão a estes, pois morreu muito jovem, com 42 anos incompletos e o mais velho dos filhos, Pedro D’Andrea Neto tinha na ocasião apenas 18 anos, Domingos tinha 14 anos e eu, Francisco, apenas 2 anos. O ciclo dos D’Andrea alfaiates não se encerrou com ele, pois continuou com seu irmão Pedrito.


Como Pedrito não teve filhos, o ciclo dos alfaiates D’Andrea se encerrou com ele.


Um terno de casemira bege:


Meu cunhado Ivo, casado com minha irmã Francisca, um homem afeito a negócios de compra e venda e profundo conhecedor de tecidos, adquiriu, certa feita um corte de tecido de casemira leve, bege, de meia-estação e queria que minha irmã fizesse um traje para ele daquela casemira. Minha irmã Francisca, apesar de ótima costureira, não sabia fazer trajes masculinos e o corte de tecido ficou algum tempo guardado. Aí então eles resolveram me presentear com o tecido, para que minha mãe, Belmira Pires D’Andrea, fizesse um traje para mim. Minha mãe além de ótima costureira, sabia fazer trajes masculinos, pois aprendera com meu pai, mas não quis fazer o traje, pois não gostava de costura masculina e demandaria um tempo que ela não dispunha, em função do serviço para suas clientes. Aí minha mãe me levou até a alfaiataria Juliani. O alfaiate, de nome Roberto Juliani, aceitou fazer a roupa para mim.


Minha grande preocupação era quanto e como iríamos pagar ao alfaiate Juliani, profissional reconhecido em Alegrete. Quando lhe perguntei quanto saiaria o serviço, ele me disse:


--Fui oficial do Batista, teu pai; foi ele que me ensinou o ofício de alfaiate. Tu não terás que me pagar nada!


Ele nada me cobrou, nem do serviço nem dos aviamentos que usou. Fez para mim um terno (paletó, calça e colete), o mais bonito e o mais bem feito que tive em toda a minha vida e o mais significativo para mim, pois fora feito com o que de melhor havia, a Gratidão, esta virtude tão rara!


Conclusão:


Este terno de casemira bege me acompanhou por muitos anos e, numa ocasião, já formado e trabalhando na Rede Ferroviária, houve um encontro em Livramento, entre Diretores da ferrovia do Estado e diretores da Ferrovia Uruguaia. Eu, que era responsável pela linha que incluía Livramento, estava lá. Quando os diretores uruguaios chegaram, todos eles vestiam ternos, com belos coletes; do lado brasileiro apenas eu vestia um terno com o respectivo colete (o que fora motivo de discretos sorrisos em minha chegada), os demais apenas trajes. Eu vestia meu terno de casemira bege.


Posso dizer que a profissão de meu pai não morreu com ele, pois deixou um seguidor, o alfaiate Juliani!