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quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Natal

                                                       NATAL



Aqui no Rio Grande do Sul, o Menino recém nascido foi colocado num cocho de dar sal pro gado, forrado de pelegos, recobertos por uma badana de couro bem macio; les juro que ele gostou da caminha improvisada.

Esqueci de les contar, como não havia lugar nas hospedarias da cidade, o menino nasceu num galpão  lá pras bandas do Alegrete, com auxílio de uma parteira de campanha...

...e recebeu a visita de 3 campeiros: um negro, um índio e um branquelo; eles sabiam no fundo de seus corações que o menino era um rei, o Rei dos Reis; que também era Deus que nos visitava, e que era um Homem que estaria sujeito a muitos sofrimentos e morte para nos redimir. Eles lhe deram presentes, coisas simples de que dispunham: um lhe deu sua aliança de ouro, pois ouro é o presente que se oferece a um Rei, outro lhe deu um saquinho de ervas aromáticas secas (incenso), próprias para presentear a Deus e o outro lhe ofereceu um vidrinho de óleo de mirra, poderoso anestésico, para o Homem que irá sofrer muitas dores.


Assim se resume a simplicidade do Natal e a simbologia dos presentes ofertados ao Menino.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Vida de peão.


“Eu sou um peão de estância

Nascido lá no galpão...

(Gildo José Moreira Campos, o Kará)”



Na verdade eu não sou um peão, nem nasci no galpão, sou muito mais um ginete, um quase domador: um domador de vida, diga-se de passagem.

A vida pra mim não tem o lado de montar (o lado esquerdo da besta), como ela tem se apresentado eu a tenho enfrentado; vou gineteando, levo meus tombos, levanto e torno a montar; já tive quedas feias, sofri fraturas, mas sempre voltei a montar.



... e será assim até o tombo final.



(e quando chegar ao céu, me apresento a São Pedro, cheio de justa empáfia, e teremos este diálogo:

-- Eu sou mais um dos ginetes de tua estância!

-- Entra que a casa é tua, ginete!)


segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Acrobacias no Crepúsculo, de Tibério Vargas Ramos.




Acabei de reler aqueles capítulos que julguei que devesse fazê-lo, para então escrever algo a respeito da obra. A cara amiga Prof. Rosa Maria viu o livro como uma estória de amor e traição, temperada com páginas de erotismo (como o capítulo 20 que ela citou). O livro é isto e muito mais: reflete a história do homem às voltas com suas necessidades e fatalidades, desde o paupérrimo berço e condição social, que ele supera com a carreira militar (na época era uma das formas de ascenção social), o casamento com a moça filha de uma tradicional família da fronteira (outra forma de ascenção social); depois a fatalidade das leis e costumes sociais do casamento único e indissolúvel, ainda que exaurido, da vida sem mácula exigida pela condição militar e que ele irá superar somente após sua reforma, ao conhecer a estudante Daniela e, finalmente, as supremas e insuperáveis fatalidades a que todo ser humano está sujeito: a velhice e a morte que se aproximam. É nesse ponto que Tibério mostra a força do seu talento. Ele que se definiu numa foto frente a um avião Piper como uma mistura de impostor e ator, mas que na verdade é um escritor (e um fingidor, como o poeta), que já fingiu viver muitas vidas, envelhecer muitas vezes e morrer outras tantas, para escrever com maestria a parte final do livro que deixo sem explicitar, para deleite de quem ler.



Lembrou Vitor Hugo, escrevendo sobre a fatalidade da condição humana, em O Corcunda de Notre Dame, Os Miseráveis e Trabalhadores do Mar – o que ele fez em três livros, Tibério o faz em um, sem ficar nada a dever àquele escritor.

Algumas curiosidades da obra:

1 - o local Imperatriz é uma mistura de Alegrete e Uruguaiana.

2 – O instrutor de vôo se chama Ramos (evidente homenagem do autor a seu pai, Gaudêncio Ramos).

3 – O velho escritor se chama Ramos (evidentemente o Tibério, aos 70 anos).

4 – o autor usa termos em desuso (embaciar por embaçar) ou francamente existentes apenas no linguajar da fronteira e das gerações de antanho, para realçar o caráter local e a época do fato (lavareda por labareda).

O estilo de escrever varia conforme a ocasião pede: ora ele nos atinge com rajadas de frases curtas, diretas, conclusivas, como se fora uma metalhadora, ora nos brinda com frases mais calmas, mais longas e mais elaboradas, mas nunca sacrifica a construção da estória à construção da frase, como faziam os escritores mais antigos. Seu estilo é moderno, variando do texto do jornalista ao texto do cronista, conforme se faz necessário.

5 - Finalmente um conselho: ao terminar de ler o 30º capítulo, torne a ler o capítulo 1º, para juntar as pontas e fechar o ciclo da estória.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

União Futebol Clube

Era início dos anos 50. A gente jogava peladas todos os dias, mas havia a vontade de jogar num time organizado, fardados e em campos que, ao menos, tivessem goleiras. Como eu e o Januário éramos pernas-de-pau, não havia time que nos aceitasse, por isso decidimos fundar um clube. Escolhemos o nome: União.
Ao Januário (dos Santos Oliveira) coube arrecadar fundos para a compra das camisetas, o que ele fez, criando um Livro de Ouro e percorrendo o comércio local, o que nos permitiu a compra de um jogo de camisetas nas cores e desenho das do Botafogo do Rio.
A mim, que transitava livremente nas turmas dos Canudos, do Colégio O. Aranha e do Coliseu, coube conversar com os guris bons de bola e convencê-los a jogar conosco; do Coliseu vieram o Nenê, excelente zagueiro de área, seu irmão Fernando, organizador de meio-campo e o Irizaga, avante.
Da turma que jogava no campo do colégio Osvaldo Aranha, vieram o Jesús (Trindade), ponteiro direito, o Vando (Vanderlã), ponteiro esquerdo, e eu, lateral direito.
Dos Canudos vieram o Januário, goleiro, o Salsicha e o Toco.
O sucesso inicial foi tão grande que começaram a aparecer candidatos a jogar no União. A gente jogava aos domingos, no campo do Sexto Regimento de Cavalaria, com autorização do oficial encarregado da parte esportiva daquela unidade militar.
O time deixou de existir, à medida que seus integrantes deixaram de morar no Alegrete, por motivo de estudo ou trabalho.
Como não há fotos ou outro tipo de registro, deixo este depoimento.

Os médicos do Alegrete

Os médicos do Alegrete
Conheci muitos médicos no Alegrete e todos eles se caracterisaram pelo saber na área médica, pela notável cultura geral e, sobretudo, pela imensa comiseração que sempre demonstraram pelos menos favorecidos.
Lembro do Dr. Odilon, que muitas vezes recebia por seu trabalho apenas mais um afilhado, caso do meu sobrinho Nei que estudou medicina e se tornou um excelente cirurgião; os espíritas diziam que, nas cirurgias, ele era assistido pelo espírito do Dr Odilon.
Dos mais cultos, lembro do Dr. Ciro (Ciro Soares Leães) e do Dr. Robertinho ( Roberto Osório Jr.), ambos médicos e poetas.
Entre os mais bonachões, recordo do Dr. Salvador Pinheiro Machado e do Dr. Alvarino Marques, amantes de um bom papo e dum bom prato.
Finalmente, o mais conhecido de todos, o Dr. Romário (Romário Araújo de Oliveira), irmão do Seu Osvaldo (da oficina) e tio do Juarez (nosso parceiro do futebol e do jogo de botão).

sábado, 25 de fevereiro de 2012

"Después del Carnaval"

Ah, Canudos, triste periferia dos meus tempos de menino, onde só moravam pobres e deserdados, de onde saiam alguns músicos (como o Pantera e o Sapo) para a banda dos Marcanth, hoje és a capital do Carnaval da cidade que é "centro do mundo". Quem diria?!!!