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segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Acrobacias no Crepúsculo, de Tibério Vargas Ramos.




Acabei de reler aqueles capítulos que julguei que devesse fazê-lo, para então escrever algo a respeito da obra. A cara amiga Prof. Rosa Maria viu o livro como uma estória de amor e traição, temperada com páginas de erotismo (como o capítulo 20 que ela citou). O livro é isto e muito mais: reflete a história do homem às voltas com suas necessidades e fatalidades, desde o paupérrimo berço e condição social, que ele supera com a carreira militar (na época era uma das formas de ascenção social), o casamento com a moça filha de uma tradicional família da fronteira (outra forma de ascenção social); depois a fatalidade das leis e costumes sociais do casamento único e indissolúvel, ainda que exaurido, da vida sem mácula exigida pela condição militar e que ele irá superar somente após sua reforma, ao conhecer a estudante Daniela e, finalmente, as supremas e insuperáveis fatalidades a que todo ser humano está sujeito: a velhice e a morte que se aproximam. É nesse ponto que Tibério mostra a força do seu talento. Ele que se definiu numa foto frente a um avião Piper como uma mistura de impostor e ator, mas que na verdade é um escritor (e um fingidor, como o poeta), que já fingiu viver muitas vidas, envelhecer muitas vezes e morrer outras tantas, para escrever com maestria a parte final do livro que deixo sem explicitar, para deleite de quem ler.



Lembrou Vitor Hugo, escrevendo sobre a fatalidade da condição humana, em O Corcunda de Notre Dame, Os Miseráveis e Trabalhadores do Mar – o que ele fez em três livros, Tibério o faz em um, sem ficar nada a dever àquele escritor.

Algumas curiosidades da obra:

1 - o local Imperatriz é uma mistura de Alegrete e Uruguaiana.

2 – O instrutor de vôo se chama Ramos (evidente homenagem do autor a seu pai, Gaudêncio Ramos).

3 – O velho escritor se chama Ramos (evidentemente o Tibério, aos 70 anos).

4 – o autor usa termos em desuso (embaciar por embaçar) ou francamente existentes apenas no linguajar da fronteira e das gerações de antanho, para realçar o caráter local e a época do fato (lavareda por labareda).

O estilo de escrever varia conforme a ocasião pede: ora ele nos atinge com rajadas de frases curtas, diretas, conclusivas, como se fora uma metalhadora, ora nos brinda com frases mais calmas, mais longas e mais elaboradas, mas nunca sacrifica a construção da estória à construção da frase, como faziam os escritores mais antigos. Seu estilo é moderno, variando do texto do jornalista ao texto do cronista, conforme se faz necessário.

5 - Finalmente um conselho: ao terminar de ler o 30º capítulo, torne a ler o capítulo 1º, para juntar as pontas e fechar o ciclo da estória.

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