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sábado, 25 de janeiro de 2014

CRÔNICA DE UMA MORTE ANUNCIADA.

Se o Gabriel García Márquez escreveu um texto com este título, o texto é propriedade intelectual dele, o título não; portanto aí vai a minha Crônica de uma Morte Anunciada:
Quando minha irmã Luzia veio de São Borja para Alegrete com o marido Aldemo, passamos a morar toda a família junta, lá na Visconde de Tamandaré; quando em 1943 o João Batista, filho dela, nasceu a casa ficou pequena para as duas famílias, a mãe com seus 6 filhos e  a Luzia com o marido e filho. Tivemos que mudar para uma casa maior, alí na Gal. Sampaio, quadra próxima aos trilhos da ferrovia; esta casa tinha, no seu lado direito, um portão largo para entrada de automóvel e mais um pedaço de muro (no local de ambos, o seu Lulu Paim, quando comprou a casa, construiu as dependências para seu armazém).
Certo dia meu cunhado Aldemo chegou em casa com um cãozinho de pequeno porte, pelo malhado em preto e branco que ele ganhara de alguém; ele deu ao cão o nome de Piloto, bastante comum para cães naquela época, pois era a marca de um aparelho de rádio muito conhecida (a marca dos aparelhos de rádio era PILOT e o símbolo associado a ela era um homem e seu cão).
O cão era do meu cunhado, mas eu, com 7 anos me tomei de amores por ele, como se fora seu dono. Comecei a propor que o Piloto ficasse preso, pois como o portão lateral era bastante usado para entrada e saída de pessoas, as vezes ficava com uma fresta aberta, por onde o Piloto poderia sair e ir para a rua e ser atropelado por um carro. Como ninguém escutasse minhas ponderações, passei da palavra à ação: amarrava o Piloto com um pedaço de barbante comum, para que não fugisse, mas sempre havia alguém que soltava o Piloto com pena do bichinho. Isto se repetiu por um bom tempo, até o dia  que aconteceu a tragédia prevista: o Piloto saiu pela fresta do portão, foi para a rua e morreu atropelado por um carro.

O texto não tem a grandeza de um texto do G. G. Márquez, mas marca de forma acentuada a primeira grande perda  da qual eu tenho plena conciência.

domingo, 19 de janeiro de 2014

O EREMITA

Depois de muitos anos de meditação solitária, o Eremita desceu ao povoado para ensinar ao povo; quando lhe perguntaram sobre Livre Arbítrio, ele se expressou assim:
--Livre Arbítrio foi o dom que Deus concedeu às suas criaturas, homens e anjos, de Lhe aceitarem ou não!
Alguém contestou: aos anjos não foi dado o Livre Arbítrio e ele falou:
--O que não foi dado aos anjos foi a possibilidade de arrependimento; sua não aceitação é eterna, enquanto aos homens, até o fim dos seus dias, é permitido arrepender-se de sua decisão.
--Os antigos diziam: de boas intenções o inferno está cheio; mas eu vos digo: é de adeptos do Livre Arbítrio que o inferno está cheio.