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segunda-feira, 25 de novembro de 2013

SEU ARRUDA, A BENZEDEIRA E A PESTE.


 

O ano era 1950 e poucos; tinha tudo para ser um ano bom naqueles campos entre Alegrete e a vila de Passo Novo;  seu Arruda, um pequeno proprietário daquelas bandas estava cheio de esperanças que a safra daquele ano permitiria saldar antigas dívidas e ainda amealhar uma reserva para novos tempos bicudos que se apresentassem. As lavouras de arroz, milho, e feijão, prometiam ser buenas; a pequena criação de gado bovino, cavalar e ovino nunca estivera tão bem, os porcos engordavam e até a cachorrada andava de pelo lustroso.

                Como não há bem que sempre dure, as coisas mudaram, as lavouras começaram a secar e a colheita a se perder, os bichos pestearam e não havia dia que um não morresse. O seu Arruda, como todo o camponês, acreditava em mau-olhado; não teve dúvidas, mandou chamar Siá Morena, preta velha rezadeira, que morava próximo ao Cerro do Tigre. Ela veio, fez uma enrolada de sons pouco inteligíveis e aí começou a falar para o pessoal do seu Arruda,  em especial para o próprio:

                --Pra proteger todas as prantação, dá um beijo na minha mão!

                Apesar da sujeira da mão, o Arruda beijou.

               -- Pra proteger as galinha coió e o galo garnizé, dá um beijo no meu pé. Pé beijado.
 
                --Pra proteger os bicho bonito e os feio, dá um beijo no meu joeio - e o Arruda beijou.

                --Pra proteger as vaca guampuda e as mocha, dá um beijo na minha coxa; levantou a saia até a coxa e, apesar do fedor, o Arruda beijou.

                --Pra proteger o touro zebu...

                Aí o Arruda “arrepiou o pelo” e gritou:

                --Este nem precisa rezar, pode deixar  morrer este touro desgraçado.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013


DE FANTASMAS e ALMAS PENADAS – I

 

Depois do jantar a molecada da Gal. Sampaio se reunia para papear. No inverno a gente trazia a capa Ideal de chuva/frio e com umas forrava a soleira de porta onde a gente sentava, e se cobria com outras. O assunto eram estórias criadas pela imaginação de cada um, que em pé a contava aos demais; eram estórias de selva (Tarzan e afins), de viagens espaciais (Flash Gordon) para planetas habitados por homens de vidro ou de gelo ou de areia e por aí vai.

 

No verão a disposição e os temas eram diferentes: ficávamos em rodinhas, em pé em frente a uma casa e o assunto preferido eram fantasmas ou almas penadas (aquelas que carregavam um saco nas costas ou um rosário pendurado no pescoço ou saltavam das paredes para o chão, procurando interagir com os vivos); a gente tinha muito medo e falava para aliviar.

Certa ocasião em que conversávamos, o Vando era que estava mais próximo à parede; foi quando ouvimos uma espécie de guincho de pavor e algo bateu nas costas do Vando;  nós todos corremos apavorados. Era apenas um gato que costumava pular a janela para seu passeio noturno e naquela noite encontrou um obstáculo inesperado e, sem poder abortar o salto, guinchou de pavor.

A gente se recompôs em seguida e passou a rir do susto. O Vando e o gato devem estar correndo até hoje, não lembro de tê-los visto de novo.

Luís e o Lobisomem.

 

Esta é do tempo em que  eu trabalhava, chefiando o Departamento de Informática; muitos programadores trabalhavam de dia e estudavam de noite.

Certo dia o Luís chegou falando que na faculdade haviam contado histórias de lobisomem e que ele tinha dúvidas sobre a existência do dito cujo. Dúvidas: foi o que bastou para alertar os gansos; os colegas de sala resolveram pregar uma peça no Luís e me colocaram a par da sacanagem; no dia seguinte retomaram o assunto sobre lobisomem e todos disseram que acreditavam na existência do bicho, e o Luís sempre em dúvida. Foi quando o Magrão sugeriu  ao Luís: pergunta ao chefe se existe ou não lobisomem, e ele veio até a minha sala.

Luís: Chefe, será que existe lobisomem?

Eu: Mas claro que existe, rapaz; se fores no Museu Júlio de Castilhos, ali na Duque próximo ao Palácio do Governo, poderás ver o couro que lá está exposto, estaqueado e seco, de um que mataram.

A partir daí o Luís não só passou a crer em lobisomem, como também passou a discutir com os colegas de faculdade que não acreditavam.

quinta-feira, 3 de outubro de 2013


NOLI e o LOBISOMEM

Quando a gente ainda era molecote costumava, após o jantar,  se reunir na rua para bater papo. Quase sempre passava por ali um moço bonito, forte e que ficava a nos contar a briga que tivera, na madrugada anterior, com os “milicos” (brigadianos), em algum boteco dos Canudos ou no cabaré da finada Aurora; nestas brigas, é claro, ele sempre levava vantagem. Esse moço era o Noli - filho do Seu Brasil que tinha salão de barbearia na Gal. Sampaio na quadra entre a Santa Casa e os trilhos - mentiroso maior não havia.

Numa noite escura, sem lua, o Noli veio contar sua valentia e nós o desafiamos a ir pela linha férrea de Uruguaina  até a 1ª ponte que havia, na sanga que tem antes dos quartéis. O Noli foi, assobiando, mas logo depois voltou esbaforido, correndo;  nos disse que tinha visto um lobisomem e se foi embora para sua casa.

O medo estampado na cara do Noli era tão real que a molecada resolveu conferir, afinal o grupo era grande e uns davam coragem aos outros. Fomos em direção à ponte e vimos o vulto do quadrúpede  se movimentando no acostamento da linha; fomos chegando, chegando, cheios de receio e vimos: o lobisomem do Nolí era apenas um burrico, um jumentinho, pastando por alí.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013


ZEZA, o  bandido.


Na década de 40 apareceu no Alegrete, ali nos Canudos, um sujeito com ares misteriosos, chamado ZEZA; era melenudo, usava vasta barba, tinha a pele muito clara e se vestia todo de preto (a bombacha, a camisa e o lenço de pescoço). Diziam que ele era bandido, já estivera preso na Casa de Correção em Porto Alegre e que chegava nos botecos e já armava uma briga.

Contam que certo dia o Misael Correa filho, o Misaelzinho, foi comprar alguma coisa no boteco e foi desacatado pelo ZEZA que estava ali bebendo;  o Misaelzinho contou ao pai o que ocorrera; contam que o Seu Misael Correa, o pai, morador da Gal. Sampaio e que era um homem valente, colocou o revólver na cintura, foi até o boteco e falou para o ZEZA:

---Tu desacatou  meu filho ainda há pouco; que seja esta a última vez que eu te vejo no Alegrete;  na próxima vez te atoro essas melenas a tiros, como quem atora cola de égua... e não adianta correr, que te rodeio o c* à bala.


Si non è vero, è bene trovato: o ZEZA nunca mais foi visto no Alegrete.

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Sobre o processo de preenchimento de vagas na extinta RFFSA- SR6



A partir de 1957, com a criação da RFFSA, empresa de economia mista cujo maior acionista era o Governo Federal, todos os empregados da empresa admitidos ou que passassem a exercer cargos de carreiras profissionais diferentes, tinham seus contratos de trabalho regidos pela CLT e a admissão ou mudança de classe deixou de ser feita por Concurso Público passando a obedecer normas de seleção (Processo Seletivo), com atuação conjunta da Área que iria receber o empregado ( responsável pela especificação das exigências do cargo e entrevista técnica com o candidato) e do Departamento de Pessoal (responsável pela aplicação de provas e verificação da adequação do perfil psicológico do mesmo ao cargo pretendido). Várias situações podiam se apresentar, determinando o âmbito e forma do processo:

1 – Havia candidatos capacitados entre os empregados, determinando processo de âmbito interno.

1.A - Quando o número de candidatos internos era inferior ou igual ao nº de vagas: era verificada a capacitação dos candidatos e preenchidas as vagas com os capacitados. As vagas por ventura restantes seriam objeto de processo externo.

1.B – Quando o nº de candidatos internos era superior ao nº de vagas, fazia-se processo seletivo interno

2 – No processo de admissão de candidatos externos em que, no geral , havia mais candidatos do que vagas, além de verificação da capacitação , era feito um processo seletivo externo com o intuito classificação dos candidatos; este processo seletivo, com publicação de editais na imprensa, era erroneamente chamado de “concurso”.

3 – No caso especial em que havia profissionais no mercado, mas em número insuficiente, estando todos empregados, a vaga poderia ser preenchida através de convite feito pelas chefias de Departamento ou da Regional a profissionais cuja competência fosse reconhecida para exercerem Cargo de Confiança. Posso citar o meu caso, convidado em 1963 pelo Chefe do Departamento de Mecânica, engº Nei F. Pereira, para exercer a Chefia da Oficina Mecânica de Santa Maria (COM-1) e na década seguinte do colega jornalista Luis Carlos Vaz, convidado pelo Superintendente Regional engº Paulo Nunes Leal, para exercer a Chefia do Departamento de Comunicação Social.

4 – No caso de funções novas e inovadoras, em que o mercado ainda não formasse profissionais, a RFFSA, através de empresas especializadas , fazia uma pré- seleção de candidatos internos que apresentassem potencialidades para função, capacitava-os através de cursos técnicos dados por aquelas empresas e aqueles que fossem aprovados ao final destes cursos, eram aproveitados nas novas funções; isto aconteceu quando se iniciou a descentralização dos processos informatizados da RFFSA, com a implantação de Centros de Informações baseados em microcomputadores nas áreas usuárias, através da formação de Analistas de Sistemas especializados em instruir estas áreas usuárias a gerir seus próprios dados e confeccionar seus próprios programas para tal.

Isto aconteceu no início da década de 80 (creio) e os Analistas de Sistemas formados na ocasião foram o Paulo José, o Osvaldo, o Lívio, o Ademir e o Hiram. Não lembro se houve outros pré-selecionados ou alguém mais que houvesse concluído os cursos de formação.

domingo, 14 de abril de 2013

Medos infantis.

Dos medos infantis:




Eu já tinha dez anos e morria de medo do escuro. Quando meu irmão Domingos apagava a luz do nosso quarto, para dormirmos, eu cobria a cabeça devido ao medo; sair no quintal à noite, só na parte iluminada.

Um dia resolvi que devia enfrentar e vencer o medo; lá bem no fundo do quintal havia um pé de ipê-roxo; eu decidi que toda a noite após o jantar eu iria até o fundo do quintal e tocaria no ipê. Comecei a fazer isso, ia até o ipê, tocava nele e voltava, na mais desabalada carreira que se possa imaginar, como se mil demônios corressem atrás de mim. Fiz isso por muito tempo, até que chegou o dia que eu passei a ir tranquilamente até o ipê, tocá-lo e regressar caminhando normalmente.

A partir de então vi que não mais havia necessidade de fazê-lo: o medo fora, finalmente, vencido.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

AUFABETO

Informe Especial, de Túlio Milman, Zero Hora de 25 de janeiro de 2013, publicou:
"AUFABETO - Os cães são capazes de compreender até 160 palavras. A conclusão é do pesquisador Stanley Coren, da Universidade de British Columbia, no Canadá".

Eu já desconfiava disso, mesmo que os adestradores que conhecí afirmassem peremptoriamente que não, que eles apenas intuiam certas ordens, elogios e censuras por nosso tom de voz ou por nossas posturas corporais.
Eu já desconfiava em função de fatos ocorridos com cães que tive:

1 - O O'Neil e o Lord, conheciam perfeitamente a palavra RUA e a associavam à passeio, pulando onde as guias ficavam dependuradas; isto nos obrigava (a mim e minha esposa) a soletrar a palavra (erre-u-a) para que não entendessem quando apenas queríamos falar esta palavra.

2 - o O'Neil costumava brincar conosco de "ratinho": a gente punha a mão debaixo de um tecido e a movimentávamos, enquanto dizíamos "pega o ratinho" e ele tentava deter o movimento de nossa mão com unhas e dentes; bastava dizermos ratinho e ele se punha aos pulos para brincar; certa vez, em conversa normal com a  minha esposa eu falei "ratinho", num outro contexto e tom, totalmente casual, mas o cão ouviu e se parou a pular, querendo brincar.

3 - Minha esposa havia retornado do hospital, de uma cirurgia abdominal, estava na cama e precisava auxílio para se movimentar, no quarto em uma extremidade do apartamento; eu estava na outra extremidade, na dependência de empregada. Ela me chamava, com a voz debilitada, mas eu não ouvia. O Lord estava ao lado da cama dela e ela lhe disse: "vai buscar o pai". O cão foi aonde eu estava, latiu algumas vezes e voltou alguns metros; com eu não entendera, ele retornou e voltou a latir e retornar alguns metros; como eu não entendera, ele repetiu tudo pela 3ª vez e aí eu percebí que ele desejava que eu o seguisse, o que foi feito, tendo o cão cumprido a ordem de me buscar.

O Lord e o O'Neil eram dois salsichinhas muito espertos.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Oração por minha família:


Senhor, abençoa meus filhos.

Podes retirar de mim todas as bênçãos, mas abençoa meus filhos.

Podes me dar todos os tropeços, mas manda teus anjos aplainarem o caminho dos meus filhos.

Podes me mandar todas as doenças que acompanham a velhice, mas concede a meus filhos a bênção da saúde.

Senhor, abençoa meus filhos e todos os seus familiares (genro, noras, netos e bisneta),

"Pois teu é o Reino, o Poder e a Glória para sempre" Amém
"O mundo é uma porção de terra ao redor do Alegrete"
BCN - Baita Chão News.


Eu sei que o Alegrete não é o centro daquele mundo que todo mundo conhece, mas é o centro do Meu Mundo (afetivo, sentimental e cultural), pois foi lá que plantei minhas raizes para poder crescer para o mundo de todo o mundo.