NOLI e o LOBISOMEM
Quando a gente ainda era molecote costumava, após o jantar, se reunir na rua para bater papo. Quase
sempre passava por ali um moço bonito, forte e que ficava a nos contar a briga
que tivera, na madrugada anterior, com os “milicos” (brigadianos), em algum
boteco dos Canudos ou no cabaré da finada Aurora; nestas brigas, é claro, ele
sempre levava vantagem. Esse moço era o Noli - filho do Seu Brasil que tinha
salão de barbearia na Gal. Sampaio na quadra entre a Santa Casa e os trilhos - mentiroso
maior não havia.
Numa noite escura, sem lua, o Noli veio contar sua valentia
e nós o desafiamos a ir pela linha férrea de Uruguaina até a 1ª ponte que havia, na sanga que tem
antes dos quartéis. O Noli foi, assobiando, mas logo depois voltou esbaforido,
correndo; nos disse que tinha visto um
lobisomem e se foi embora para sua casa.
O medo estampado na cara do Noli era tão real que a molecada
resolveu conferir, afinal o grupo era grande e uns davam coragem aos outros.
Fomos em direção à ponte e vimos o vulto do quadrúpede se movimentando no acostamento da linha;
fomos chegando, chegando, cheios de receio e vimos: o lobisomem do Nolí era
apenas um burrico, um jumentinho, pastando por alí.
Nenhum comentário:
Postar um comentário