O ano era 1950 e poucos; tinha tudo
para ser um ano bom naqueles campos entre Alegrete e a vila de Passo Novo; seu Arruda, um pequeno proprietário daquelas
bandas estava cheio de esperanças que a safra daquele ano permitiria saldar
antigas dívidas e ainda amealhar uma reserva para novos tempos bicudos que se
apresentassem. As lavouras de arroz, milho, e feijão, prometiam ser buenas; a
pequena criação de gado bovino, cavalar e ovino nunca estivera tão bem, os
porcos engordavam e até a cachorrada andava de pelo lustroso.
Como
não há bem que sempre dure, as coisas mudaram, as lavouras começaram a secar e a
colheita a se perder, os bichos pestearam e não havia dia que um não morresse.
O seu Arruda, como todo o camponês, acreditava em mau-olhado; não teve dúvidas,
mandou chamar Siá Morena, preta velha rezadeira, que morava próximo ao Cerro do
Tigre. Ela veio, fez uma enrolada de sons pouco inteligíveis e aí começou a falar
para o pessoal do seu Arruda, em
especial para o próprio:
--Pra
proteger todas as prantação, dá um beijo na minha mão!
Apesar
da sujeira da mão, o Arruda beijou.
-- Pra proteger as galinha coió e o galo garnizé, dá um beijo no meu pé. Pé beijado.
-- Pra proteger as galinha coió e o galo garnizé, dá um beijo no meu pé. Pé beijado.
--Pra
proteger os bicho bonito e os feio, dá um beijo no meu joeio - e o Arruda
beijou.
--Pra
proteger as vaca guampuda e as mocha, dá um beijo na minha coxa; levantou a
saia até a coxa e, apesar do fedor, o Arruda beijou.
--Pra proteger
o touro zebu...
Aí o
Arruda “arrepiou o pelo” e gritou:
--Este
nem precisa rezar, pode deixar morrer
este touro desgraçado.
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