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sábado, 2 de janeiro de 2010

Um terno de casemira bege

Introdução:



Quando retornei ao Alegrete, dia 19 de setembro de 2009, minha prima em 2º grau Vera Alvares Cunha me presenteou com um exemplar da Revista do Imigrante de 2008 em que ela escrevera uma crônica sobre a Alfaiataria La Gamba que existiu na cidade e na qual trabalharam os cunhados Rafhael La Gamba e Pedro D’Andrea, respectivamente meu tio-avô e meu avô paterno.


A Alfaiataria La Gamba ficou conhecida como “A Moderna”. Diz ainda a professora Vera que o legado da Alfaiataria La Gamba foi tributado A Pedro D’Andrea Filho (Pedrito), meu tio, que foi considerado um dos melhores alfaiates de Alegrete até meados da década de 60, quando se aposentou e que o mesmo exerceu seu oficio na Rua dos Andradas ( nº 253), já com o nome de Alfaiataria D’Andrea.


Continuação:


A partir do que diz a professora Vera, eu continuo com a história, acrescentando:


Dos filhos de Rafhael La Gamba, nenhum seguiu a profissão do pai, tendo a sua linhagem de alfaiates se extinguido com ele.


Dos filhos de Pedro D’Andrea, além de Pedrito também trabalharam neste ramo meu tio Ventura Radamés D’Andrea, que foi auxiliar de Pedrito em sua alfaiataria, mas que nunca chegou a se estabelecer como alfaiate, e meu pai João Batista D’Andrea, também alfaiate, que exerceu a profissão em Alegrete e posteriormente, em Quarai. Apesar de ter três filhos (Pedro, Domingos e Francisco) João Batista não pode transmitir a profissão a estes, pois morreu muito jovem, com 42 anos incompletos e o mais velho dos filhos, Pedro D’Andrea Neto tinha na ocasião apenas 18 anos, Domingos tinha 14 anos e eu, Francisco, apenas 2 anos. O ciclo dos D’Andrea alfaiates não se encerrou com ele, pois continuou com seu irmão Pedrito.


Como Pedrito não teve filhos, o ciclo dos alfaiates D’Andrea se encerrou com ele.


Um terno de casemira bege:


Meu cunhado Ivo, casado com minha irmã Francisca, um homem afeito a negócios de compra e venda e profundo conhecedor de tecidos, adquiriu, certa feita um corte de tecido de casemira leve, bege, de meia-estação e queria que minha irmã fizesse um traje para ele daquela casemira. Minha irmã Francisca, apesar de ótima costureira, não sabia fazer trajes masculinos e o corte de tecido ficou algum tempo guardado. Aí então eles resolveram me presentear com o tecido, para que minha mãe, Belmira Pires D’Andrea, fizesse um traje para mim. Minha mãe além de ótima costureira, sabia fazer trajes masculinos, pois aprendera com meu pai, mas não quis fazer o traje, pois não gostava de costura masculina e demandaria um tempo que ela não dispunha, em função do serviço para suas clientes. Aí minha mãe me levou até a alfaiataria Juliani. O alfaiate, de nome Roberto Juliani, aceitou fazer a roupa para mim.


Minha grande preocupação era quanto e como iríamos pagar ao alfaiate Juliani, profissional reconhecido em Alegrete. Quando lhe perguntei quanto saiaria o serviço, ele me disse:


--Fui oficial do Batista, teu pai; foi ele que me ensinou o ofício de alfaiate. Tu não terás que me pagar nada!


Ele nada me cobrou, nem do serviço nem dos aviamentos que usou. Fez para mim um terno (paletó, calça e colete), o mais bonito e o mais bem feito que tive em toda a minha vida e o mais significativo para mim, pois fora feito com o que de melhor havia, a Gratidão, esta virtude tão rara!


Conclusão:


Este terno de casemira bege me acompanhou por muitos anos e, numa ocasião, já formado e trabalhando na Rede Ferroviária, houve um encontro em Livramento, entre Diretores da ferrovia do Estado e diretores da Ferrovia Uruguaia. Eu, que era responsável pela linha que incluía Livramento, estava lá. Quando os diretores uruguaios chegaram, todos eles vestiam ternos, com belos coletes; do lado brasileiro apenas eu vestia um terno com o respectivo colete (o que fora motivo de discretos sorrisos em minha chegada), os demais apenas trajes. Eu vestia meu terno de casemira bege.


Posso dizer que a profissão de meu pai não morreu com ele, pois deixou um seguidor, o alfaiate Juliani!

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