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sábado, 22 de março de 2008

QUERÊNCIA

                                                                    (outubro de 1993)

     Quase todos nós, portoalegrenses por adoção, viemos de uma pe­quena cidade do interior, a qual fomos obrigados a abandonar em busca de melhores oportunidades de vida e crescimento.

     Não faz diferença se nascemos em Alegrete, Itaquí, São Borja ou Uruguaiana (ou qualquer outra cidade da fronteira oeste do Estado), chegou o dia em que nossa cidade, qual madrasta, não nos concedeu mais a oportunidade de lá ficarmos: saímos, crescemos e fomos "tocando a vida".

     Com o passar do tempo fomos abandonando nossa maneira "grossa" de falar, nossos valores machistas e adotamos ou fomos adota­dos por Porto Alegre. Deixamos de visitar a cidadezinha do interior e a esquecemos.

     Um dia, já casados e com filhos, ligamos o rádio na nossa Rádio Gaúcha e ouvimos o Canto Alegretense; na voz do Bagre, os versos do Nico nos golpeiam no imo e a memória volta em catadupas de emoção: a rua da Igreja, a praça, o río, a rapadura de leite, o pão de casa, as serena­tas, as reuniões dançantes, a Escola. Em meio a cheiros, sabores, ima­gens e emoções, a Escola é uma lembrança à parte, pois até poemas fi­zemos dedicados a Ela.

     É por tudo isto que em qualquer local, o Canto Alegretense repre­senta para qualquer outro auto-exilado emotivo como eu, mais que ho­mena­gem e lembrança de Alegrete, um canto de amor e regresso a um lugar mágico e determinado, dormido na lembrança, a que chamamos QUE­RÊNCIA.

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