(outubro de 1993)
Quase todos nós, portoalegrenses por adoção, viemos de uma pequena cidade do interior, a qual fomos obrigados a abandonar em busca de melhores oportunidades de vida e crescimento.
Não faz diferença se nascemos em Alegrete, Itaquí, São Borja ou Uruguaiana (ou qualquer outra cidade da fronteira oeste do Estado), chegou o dia em que nossa cidade, qual madrasta, não nos concedeu mais a oportunidade de lá ficarmos: saímos, crescemos e fomos "tocando a vida".
Com o passar do tempo fomos abandonando nossa maneira "grossa" de falar, nossos valores machistas e adotamos ou fomos adotados por Porto Alegre. Deixamos de visitar a cidadezinha do interior e a esquecemos.
Um dia, já casados e com filhos, ligamos o rádio na nossa Rádio Gaúcha e ouvimos o Canto Alegretense; na voz do Bagre, os versos do Nico nos golpeiam no imo e a memória volta em catadupas de emoção: a rua da Igreja, a praça, o río, a rapadura de leite, o pão de casa, as serenatas, as reuniões dançantes, a Escola. Em meio a cheiros, sabores, imagens e emoções, a Escola é uma lembrança à parte, pois até poemas fizemos dedicados a Ela.
É por tudo isto que em qualquer local, o Canto Alegretense representa para qualquer outro auto-exilado emotivo como eu, mais que homenagem e lembrança de Alegrete, um canto de amor e regresso a um lugar mágico e determinado, dormido na lembrança, a que chamamos QUERÊNCIA.
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